ALVOROÇO 

“A. T. E. Vidal / Azorina vidalii (Watson) Ferr / Vidália” é o título da exposição individual de André Sousa que inaugura no dia 23 de Setembro na Galeria Quadrado Azul, espaço Q3.

Alexander Thomas Emeric Vidal, ou Capitão Vidal, comandou missões hidrográficas no Oceano Atlântico na primeira metade do séc. XIX. Em honra ao Capitão inglês pela importância que teve no levantamento hidrográfico do arquipélago dos Açores, Hewett Cottrell Watson deu o nome Campanulla Vidalii (Watson) a uma planta endémica deste território e propôs, sem sucesso, a criação do género botanico Vidália.
Azorina Vidalii (Watson) Ferr é o actual nome científico desta planta, Vidália é seu nome comum.

No espaço Q3, André Sousa apresenta uma instalação onde pinturas, desenhos, fotografias e objectos criam dois momentos que se relacionam.

Num primeiro momento a série Toy convoca o espaço urbano contemporâneo. A linguagem de rua e os grafitty são representativos da necessidade de afirmação e da pluralidade de identidades que existe nas cidades.

São apresentadas pinturas a óleo resultantes da apropriação de grafitty reais encontrados no Porto, em Lisboa, Matosinhos, Perafita, Maia, Felgueiras e Leça da Palmeira.

Todas estas imagens têm em comum uma debilidade característica de obras realizadas por iniciandos. No processo de iniciação a uma cultura urbana, adolescentes trocam o seu nome verdadeiro por pseudónimos que levam para as ruas sobre a forma de grafitty. Neste processo os mais experientes e capazes, no topo de uma cadeia hierárquica afirmam-se como King(s) e os mais novos são denominados pejorativamente como Toy(s). Os primeiros grafitty realizados por um indivíduo apresentam imaturidade na forma e técnica que em muito tem a ver com tenra idade ou com uma verdadeira incapacidade. Alguns são experiências pontuais. Encontram-se grafitty que estão mais próximos de questões pictóricas do que da sua própria cultura. Muitas destas primeiras experiências estão mais perto do domínio da brincadeira do que do da afirmação pessoal, cultural e politica.

A uma outra escala, qualquer pequena cidade que se queira afirmar contemporânea terá que ter as suas paredes bem riscadas. O fenómeno do grafitty, tal como o conhecemos terá começado no início dos anos 70 em Nova Iorque alastrando-se rapidamente para toda as grandes metrópoles.

Num segundo momento, Novo Mundo, leva-nos para um passado indefinido tão próximo do dia de ontem como da origem. Desenhos, fotografias e objectos exploram modelos de representação da paisagem com recurso à paisagem açoriana.

A origem vulcânica do arquipélago tem curiosos resultados na morfologia dos terrenos onde a sua própria história se torna visível através de diferentes extractos. Se a ideia de território em transformação está presente nesta paisagem é por motivos bem diferentes dos de ordem politica. Aqui as fronteiras crescem ou diminuem por vontade própria.

A paisagem açoriana convoca constantemente a sua própria história e identidade através da sua morfologia, da constante datação de edifícios nas suas fachadas, datas de construção e reconstrução provocadas por sismos, ou pela apresentação de dupla identidade cultural quando a bandeira do país que recebe os emigrantes locais é colocada, em mastros no exterior de casas privadas, lado a lado da Portuguesa ou da bandeira da Região Autónoma dos Açores,

Pela sua condição insular, entre a Europa e a América, este espaço físico tem a sua origem enquanto paisagem num momento em que Portugal já tinha memória constituída e o seu território aculturado. Não podemos esquecer que o conceito de paisagem resulta de três factores: espaço, tempo e cultura. Com o povoamento de um território virgem surge a necessidade de conhecimento contínuo sobre esse mesmo espaço. O mapa pela sua utilidade prática é o ponto de partida para um conhecimento ramificado.
Os primeiros mapas realizados sobre qualquer território apresentam sempre falhas. As distâncias e formas não correspondem às verdadeiras e conhecer a conquista do pormenor e a variação da toponímia através dos sucessivos mapas de uma região é assistir à redefinição de um território.

Da sua condição insular resulta ainda o estatuto de região ultraperiférica da União Europeia.


A energia em potência de um vulcão comparada à de um adolescente.
O entusiasmo com que se desenharam as primeiras cartas e se realiza hoje um primeiro grafito; aculturação, identidade, marginalidade e inscrição contínua são conceitos que se podem estudar a partir das paredes de uma cidade.

A contemporaneidade resulta frágil e condenada ao obsoleto se a olharmos deste ponto de vista. A imaturidade destas afirmações de identidade pertence a indivíduos isolados mas também ao tempo que estamos a viver. Um tempo entre o anterior e o que se segue.
Um tempo por definir.

“Alvoroço” seria um outro título possível para esta exposição.

André Sousa
08.IX.2006

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“Azorina vidalii (Watson) Feer (CAMPANULACEAE)

(Vidália) Em todas as ilhas dos Açores.
-Endémica dos Açores

Pequeno arbusto com rosetas terminais de folhas glabras, verde escuras ou verde-acastanhadas; flores brancas a cor-de-rosa, semelhante na forma às flores das espécies do género Campânula. – Foi nalgumas ilhas plantada como ornamento o que provocou a sua expansão a novas localidades. O maior úmero de populações naturais está actualmente no Pico, S. Jorge, Flores e Corvo. Cresce principalmente nas fendas das falésias costeiras onde não haja acumulação de solo, mas também em vertentes abruptas com depósitos arenosos. Na ilha do Corvo aparece inclusivamente no telhado de algumas casas. Sempre em habitats fortemente expostos. Cresce frequentemente associada com o Crithmum maritimum e com outras espécies tolerantes à brisa marítima. Existem várias populações, que nalgumas localidades podem ser razoavelmente grandes. Apesar de tudo, esta planta, que é uma das mais valiosas e bonitas da flora açoriana, carece de protecção no s seus habitats naturais. A espécie é endémica dos Açores. “

SJÖGREN, Erik -Plantas e Flores dos Açores. Espaço Talassa, 2001.

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